O que seu olho vê no trabalho?
Nesta edição da Bem no Trabalho, te ajudo a entender como a visão de mundo baseada na experiência pessoal de cada um pode influenciar - e até limitar - suas decisões e trajetória profissional
Olá! Vou começar esta edição atrasada em ritmo de pós-Carnaval (afinal o ano só começa agora, não é mesmo?) com uma brincadeirinha. Uma adivinhação criativa singela pra animar a nossa volta ao trabalho.
O que é o que é? (Aí vão as dicas:)
- Todo mundo tem, e todo mundo leva para o trabalho;
- Todo mundo acha que não tem, e daí vacila sem saber;
- Ter isso não faz de você uma má pessoa, mas já tá na hora de todo mundo aprender a usar;
- Todo ano a galera leva isso pro BBB e rolam altas tretas por lá, repetindo basicamente o mesmo padrão (se você odeia BBB não se preocupe, é uma referência rápida, vai ficar tudo bem).
Eu ia fazer um suspense para responder, mas já que eu não sou o João Kleber e isto não é um vídeo de um youtuber famoso, te digo já:
A resposta correta é VIÉS.
Tá sabendo qual é o seu viés? Nesta edição da Bem no Trabalho vamos descobrir por que ele importa, porque tem um monte de empresa investindo milhões para ensinar seus funcionários sobre ele, e pensar um pouco a respeito das várias vezes que um simples viés pode ter atrapalhado a sua carreira ou a de alguém liderado por você? Vem comigo que eu te explico.
Mas antes:
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*Imagine a seguinte cena fictícia. Um chefe de equipe tem quatro funcionários. Digamos que ele se chame Tadeu (sim, ando vendo muito BBB). Tadeu é um homem de seus 50 e poucos anos, branco, grisalho, sério, metódico, fiel a seu modelo predileto de camisa quadriculada, de poucas risadas e temperamento calmo. Ao avaliar sua equipe, ele sabe que sua funcionária mais produtiva é uma moça chamada Marcela.
**Marcela está há um ano na equipe de Tadeu e é a primeira a chegar e a última a sair. Bonita, sempre muito sorridente, animada, jovem, usa roupas coloridas e moderninhas fala alto. É inteligente e dá para ver que ela se dedica e quer crescer. Tadeu gosta do trabalho dela e está pensando em dar um grande projeto a ela como reconhecimento, mas tem dúvidas se ela realmente está preparada; às vezes, teme que o jeito descontraído e despachado demais acabe comprometendo a qualidade da entrega.
*** Um dia Marcela chega ao trabalho e conhece Eduardo. Eduardo é de outra equipe, mas vai cobrir férias no time de Tadeu. Marcela analisa Eduardo: um rapaz de 30 anos, branco, com algumas entradas sinalizando uma calvície batendo às portas. Simpático, mas sério, formal, vestindo uma alinhada e cuidadosamente bem passada camisa quadriculada.
**** Semanas depois, Tadeu está certo de que Eduardo é seu funcionário favorito. Talentoso como Marcela, mas por algum motivo Eduardo lhe transmite mais confiança, uma coisa meio “à primeira vista”. Tadeu sente uma simpatia pelo rapaz e uma confiança maior de que o grande projeto estará em boas mãos, com menos incerteza do que se o desse para Marcela. Final feliz, pensa Tadeu após comunicar a boa notícia para a equipe.
Agora, mais uma pergunta: no causo acima, inspirado em fatos reais, qual foi a pedra no caminho do sucesso da Marcela?
a) Tadeu
b) Eduardo
c) o viés
Viés é meio aquela frase do Caetano: o Narciso que acha feio o que não é espelho.
O ser humano tende a gostar, confiar, sentir empatia e promover (rs) mais quem é próximo da realidade dele. Quer dizer que todo mundo que é viés é má pessoa? Não, até porque muitas vezes esse viés é inconsciente. Mas na prática, o viés é um preconceito que pode resultar - e resulta com bastante frequência— em discriminação. Então todo mundo tem, mas todo mundo precisa aprender a não ser guiado por ele. Urgente, porque já é 2024 galera (cabou o Carnaval, talz).
Funciona meio assim: se tal empregador fez faculdade X de elite, ele acha maravilhoso contratar pessoas que estudaram no mesmo lugar que ele. Não é um critério que ele anuncia, mas é uma simpatia natural. Se eu sou do Paraná (no caso eu sou), eu posso pensar pô, gosto do fulano porque ele é do Paraná… entendeu onde isso vai parar, né?
Naquilo que a gente vê por aí: escritórios imensos cheios de brancos da mesma cidade, da mesma bolha, do mesmo bairro, da mesma rede de influência, que gostam das mesmas músicas e assistem aos mesmos programas.
Ou então, mesmo em casos que tenham mais diversidade nos escritórios, são mais escassas as oportunidades de ascensão para negros, mulheres, pessoas das periferias ou todo mundo que não se pareça ou tenha menos afinidades com o estilo de vida dos chefes.
Importante lembrar que TODO MUNDO TEM VIÉS. O importante é saber qual é (ou quais são) para não agir cegamente orientado por ele, e saber reconhecer, identificar, contratar e promover talentos que não se parecem com você.
Essa campanha é muito boa para explicar viés. Você imagina um CEO, como essa pessoa é? Você imagina alguém chorando no banheiro, como essa pessoa é?
Busquemos a explicação de alguém que entende muito desse assunto. A Joan Williams, professora e diretora do Center for WorkLife da Universidade da California. Ela explica neste artigo que existem 4 tipos de viés no trabalho:
- O ‘prova de novo’: É quando alguns grupos precisam provar que são capazes mais do que outros. Por exemplo, alguns grupos são julgados pelo seu potencial (“ai esse menino tão bacana, estudou na minha faculdade”), enquanto outros são julgados pelo que já entregaram, brilharam e provaram bem provadíssimo;
- O grupo “corda bamba”: significa que uma faixa mais estreita de comportamento é aceita para algumas pessoas, tipo: eu confio em vc, mas não anda fora da linha. Nesses casos, a pessoa precisa se esforçar mais ainda na política do escritório para crescer;
- O outro grupo ela chama de “muro maternal”: que é todo tipo de viés e pensamentos ativados a partir da maternidade; pode atingir pais também, quando eles se mostram comprometidos com a paternidade ativa no trabalho. (Aquele tipo “não promove ela porque pode ter que viajar, e ela é mãe?”)
- O quarto tipo é o “jogo de cabo de guerra”: também relacionado a viés por raça ou gênero no trabalho, quando um preconceito contra um grupo desfavorecido cria conflitos dentro desse grupo. Daí, no bate-boca, vira uma mistura de tudo: corda-bamba, com prova de novo, com muro maternal….
Por que aprender sobre viés é tão importante
Agora que já conversamos sobre viés inconsciente, você pode tirar onda e jogar esse assunto nas conversas da firma, nos bares e eventos por aí, porque o tema está super na moda em treinamento de lideranças.
Por que você sabe que hoje em dia toda empresa quer ficar mais bonita na foto da diversidade (ou ao menos parecer, para não ser cancelada nem perder consumidores ) e você já entendeu que o viés inconsciente é inimigo da diversidade, né?
“A maioria dos bons chefes deseja equipes diversas e livres de preconceitos. Eles querem homens e mulheres de diferentes idades, representando uma variedade de culturas e raças. Na prática, é claro, esse tipo de caldeirão é difícil de criar. Em algumas áreas, indústrias e funções, pode parecer quase impossível. E então há o outro problema. Mesmo que você alcance o tipo de diversidade que deseja, pode ter dificuldade em gerenciar o grupo de forma que todos se sintam incluídos e valorizados”.
Você pode ouvir e ler mais sobre isso neste podcast da HBR, onde a Joan Williams foi entrevistada.
Ela explica como as empresas que identificam que estão cheias de preconceito na liderança podem fazer para mudar isso imediatamente. É um tema muito importante e muito complexo, recomendo a leitura. Spoiler: não adianta só treinar a equipe. Uma aula!
Agora cá entre nós, para você matutar aí: você acha que já deixou de ser promovido, escolhido ou contemplado com uma boa oportunidade no trabalho por algum viés inconsciente (ou até consciente) desses? Me conta nos comentários ou no laigous@gmail.com que vou adorar ouvir a sua experiência.
Falando em mães
Eu não tenho filhos. Já fui indecisa por muito tempo, posso dizer que acho a decisão mais difícil que eu já tomei, mas já tou em paz com ela.
Daí passei o Carnaval numa aventura inédita: peguei minha sobrinha de três anos para ficar comigo no feriado e a mãe, que mora em outra cidade, poder curtir o Carnaval.
Foto: Eu na piscina de bolinhas do Parque da Mônica com a minha sobrinha
Preciso confessar: foi a primeira vez que eu fiquei responsável sozinha integralmente por uma criança por tanto tempo, uma semana rs. E algumas das minhas principais suspeitas se confirmaram:
- É a coisa mais divertida do mundo, cheia de momentos profundos e encantadores;
- Eu tendo a trabalhar com hiperfoco, e eu não consegui fazer mais nada durante esta uma semana além de cuidar da minha sobrinha.
- Eu sempre tive medo de não ter energia suficiente para trabalhar e ser mãe ao mesmo tempo, por que os dois me parecem muita coisa; e continua parecendo.
- Mães são incríveis, como vocês conseguem? E sei que muita gente não consegue e está exausta, e as empresas deveriam demais se esforçar para tornar a vida das mães e pais mais possível, com mais flexibilidade, mais licença paternidade, creche, home office. Criar filho realmente é coisa para fazer em aldeia, e não em poucas pessoas.
- Eu não descobri que vcs são incríveis e que é difícil pra caramba agora não tá, rs. É apenas um post de apreciação <3
Para ler e ouvir
- Sonhos profissionais - A querida leitora e jornalista Bruna Klingspiegel me deu a dica de um podcast com um debate interessante. Vale a pena ter sonhos profissionais? Ou como os sonhos profissionais não dependem só da gente (vai que seu chefe tem viés e não vai com a sua cara e não deixa vc ser a Fátima Bernardes, rs) é melhor sonhar sonhos para a sua vida pessoal, com a sua família.
Eu só discordo em parte porque, pensando nas minhas ancestrais que sempre foram impedidas de trabalhar e estudar, acho que para muitas pessoas se realizar profissionalmente também pode ser uma maneira de existir e resistir. E sonho com a família pode ser frustrante também, rs.
O que você acha? Ouve lá o podcast Ouve se Quiser
- Funcionário do ano de 1985 - A esta altura você já deve ter assistido ou ouvido falar do documentário da Netflix “A noite que mudou o pop”. Assista, é muito legal e conta os bastidores da gravação do hit “We are the World” (Para seguir nas minhas referências BBB, aqui no Brasil teve uma versão iarnuou ).
Mas o que eu queria falar sobre trabalho é gente: que homem mais produtivo é Lionel Richie? Ele teve a ideia, compôs a música, juntou a galera, apresentou o VMA na mesma noite, ganhou em várias das categorias (se não me engano com o maravilhoso hino Hello), saiu do VMA e foi lá gravar com a galera até 9h da manhã. E eu que achava que o pior que podia acontecer eram meus plantões de Carnaval. Te amo, Lionel Richie.
- Livre do Escritório - Vocês viram que o Stanley, o que mais representava os funcionários com ódio no coração do seriado The Office, aposentou e veio morar no Brasil? Tudo para uma campanha do Nubank, veja aí.
Se cuida que ainda tem bastante ano pela frente!
Fica bem,
Ligia
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Subscrito
Crédito: Agradecimentos ao Tércio Silveira, da Forno a Letra, pela revisão.
Sobre a autora
Sou jornalista há 20 anos, com MBA em Finanças e especializada em inovação digital, políticas públicas e temas sociais. Longas passagens pelo G1, Valor Econômico e BBC News Brasil, onde fui editora por 5 anos. Ouvir e histórias que merecem ser contadas é a minha paixão. Você pode conhecer um pouco do meu trabalho clicando aqui