Seu trabalho te energiza ou envenena?
Nesta edição da Bem no Trabalho, te ajudo a identificar as atividades que te deixam mais vivo ou mais fraco, na busca por uma rotina profissional mais saudável
O estimado leitor trabalhador que assina esta newsletter com certeza já está familiarizado com a cena abaixo.
Você chega em casa cansado após uma jornada de sete, oito horas de trabalho. Se joga no sofá com aquele alívio de quem encerrou mais um expediente e agora vai poder tomar banho, descansar, comer, assistir TV (_____________________ insira aqui o que você gosta de fazer durante o seu merecido tempo livre).
Todo mundo que tem emprego já passou por isso, não é mesmo? Pois hoje te trago um dado que só se aprende com a experiência: nem todo cansaço é igual, quando se olha de perto.
Para explicar meu ponto, vou inventar dois modelos basicões para te ajudar a imaginar os diferentes tipos de alívio do trabalhador que bateu o ponto.
Pensamento opção A:
- “Pô, mandei muito bem hoje, apesar de todas as dificuldades que apareceram. Como sou boa (ou bom) no que eu faço! Que bom que deu tudo certo, que bom que o trabalho foi bem feito! Foi difícil, mas sorte de todo mundo que eu estava lá, parabéns pra mim. E ainda bem que, depois de hoje, vão topar aumentar logo o meu salário (ou me dar bônus, ou me promover)”.
Pensamento opção B:
- “Cem-or, que dia cansativo, ainda bem que acabou. Não estava mais aguentando me sentir mal, preciso tentar dormir para encarar tanto desconforto amanhã de novo. Queria ter feito mais mas ninguém me escuta, não tinha como eu brilhar naquelas circunstâncias, fiz o que deu para fazer mas ninguém nem percebeu a minha importância. Se eu pudesse escapar, escaparia correndo. Vou jogar na Mega-Sena antes de dormir, sem falta”.
Embora ambos os relatos fictícios descrevam um dia cansativo de trabalho, são sentimentos bem distintos, concorda?
Isso porque, na gaveta da nossa mente em que organizamos todas as nossas obrigações, existem duas categorias importantes: as atividades que nos drenam, e as atividades que nos energizam.
Nesta quarta edição da "Bem no Trabalho”, vou te ajudar a identificá-las.
Mas primeiro, um lembrete:
<3 = amor
Se este texto for útil para você, deixe um like ao final para mais gente ficar sabendo.
E se quer apoiar o meu trabalho, considere compartilhar a newsletter com mais pessoas e tornar-se um assinante. É fácil e rápido, é só se cadastrar pelo botão abaixo:
“Que bom Ligia, significa que agora que eu vou aprender o que me energiza só vou fazer atividades no trabalho que me dão alegria?” Olha, provavelmente não. Tinha um colega meu que costumava dizer que “se trabalho fosse legal, a gente pagaria para ir lá, e não o contrário”.
Eu nunca concordei muito com essa frase, porque além de soar muito rabugenta (rs), a verdade é que na maior parte da minha vida eu me diverti bastante trabalhando, mesmo em empregos que tinham problemas. No trabalho eu já vivi grandes emoções, grandes risadas, amizades, aprendizados, e um acúmulo de experiências que me ajudaram e ajudam, sem dúvida, a evoluir como pessoa.
É assim: um dia cansativo de trabalho pode ser um “elixir da vida”, fazendo você se sentir mais viva e satisfeita ao final de um dia de labuta.
Ou pode ser também uma taça de “veneno”, aquele que você vai bebericando aos poucos e a cada dia vai drenando sua energia vital e te deixando mais fraca, com menos vontade, até você se sentir morrendo, morrendo por dentro, como dizia aquela canção dos anos 2000. (Manjas KLB?)
Afinal, o que diferencia um dia ruim de um dia bom no trabalho?
Saber identificar o que te faz sentir mais vivo e o que te faz sentir mais morto (rs) é o primeiro passo para tentar construir uma composição mais saudável nesse “drink” diário que é a rotina de trabalho.
Como saber qual é qual
Pensa aí em uma coisa que você fez alguma vez na vida e te despertou alegria e emoções positivas. É difícil explicar, mas é fácil de reconhecer: aquela atividade despretensiosa em que de repente você se pega sorrindo, ou super curioso e com vontade de continuar dedicado àquela tarefa por horas. Ou aquilo que você faz e recebe mil elogios dos seus amigos; ou qualquer coisa que faça você pensar poxa, não vejo a hora de fazer isso de novo!
Geralmente é mais fácil de conseguir esse tipo de energia em atividades não relacionadas ao trabalho. Jogar futebol, fazer uma aula de dança, tocar violão, escrever um diário, um romance, uma poesia.
Já contei aqui em edições anteriores que eu subestimei por muito tempo a importância dessas atividades/hobbies que nos energizam e deixei tudo de lado. Achava que o importante eram as habilidades remuneradas e isso fez uma falta danada à minha energia vital.
Agora estou terrível; atendendo todos os meus impulsos aleatórios de aprender cousas novas. Outro dia até me arrisquei de pedreira fechando uns buracos no meu quintal com cimento. Ficou belíssimo. (Mentira. Mas ficou fechado, o que era o mais importante rs, e eu adorei o rolê novo.)
Habilidades ou atividades que nos dão energia são apelidadas de “tesouros escondidos” pelo autor deste artigo interessante da Fast Company.
Por outro lado, as atividades que nos drenam são chamadas de dons extenuantes: aquelas que a gente sabe fazer bem, fazem parte do nosso trabalho, mas fazem minguar a tal da energia vital. Por exemplo, para mim: preencher planilhas de orçamento, despesas e contabilidade; criar cronogramas e escalas de férias; ter conversas difíceis de feedback com subordinados.
Faço tudo isso? Faço. Mas quando acabo estou igual a flor murcha da foto lá em cima.
Então, já sabe: quando a coisa estiver difícil, aumente as doses de tesouros escondidos na sua rotina. “Por exemplo, se você sabe que analisar planilhas por dois dias seguidos no trabalho vai esgotar sua energia, fazer algo energizante depois de terminar é uma ótima maneira de compensar essa atividade desgastante (mas necessária). Na verdade, apenas antecipar essa recompensa é suficiente para lhe dar energia enquanto trabalha”.
Olha o que diz o Kayvan Kian, autor do artigo.
“Quando ignoramos esses tesouros escondidos, negamos a nós mesmos a energia que pode nos ajudar a lidar com os momentos desafiadores de nossas vidas. Ao contrário dos dons extenuantes – aquelas habilidades nas quais nos destacamos, mas que nos esgotam – você pode identificar essas habilidades para praticá-las com mais frequência”.
Tá, mas e no trabalho? Dá para descobrir “tesouros escondidos” sem levar o violão ou o ateliê de pintura para o escritório? O artigo dá algumas dicas de como descobrir suas habilidades energizantes profissionais.
siga sua curiosidade: se você se interessa muito sobre um tema ele pode virar um talento/habilidade. Lê muito sobre empreendedorismo e pode empreender um dia? Lê sobre comunicação não violenta ou comunicação para líderes, mesmo que isso não esteja no seu escopo de obrigações? Será que não tem uma habilidade útil e nova nascendo aí?
pense nos seus hobbies, nos seus interesses da infância e vê se não tem nada que merece ser recuperado.
peça feedback para quem te conhece bem. “O que você acha que é um talento meu, ou algo que me energiza, que eu poderia fazer mais?”
não deixe de pensar nisso e descobrir novos caminhos. Ter energia é tudo na vida, não é não? Não dá para desperdiçar novas sementinhas.
Fazer algo em que somos bons ou aprender que somos capazes de aprender algo novo acalma o coração dos ansiosos: dá um UP na autoestima e uma confiança de que, seja lá o que rolar, você vai dar conta porque tem capacidade de aprender e tirar de letra, sempre.
E assim você ganhou sua dose de energia do dia. Tim-tim!
Ideias que motivam (mesmo sem aumento)
Eu nem planejava falar sobre isso, mas eis que a Thomson Reuters se deu ao trabalho de fazer uma lista tão simples, direta e eficiente sobre maneiras de motivar seus funcionários que eu não resisti a replicar aqui. Pode servir para você puxar uma conversa com seu chefe.
Ou, se você está em um cargo de liderança, uma oportunidade de pensar se não dá para aumentar a dose de drink de elixir da vida que você distribuir para seus subordinados.
Trabalhar com gente feliz e sendo feliz faz bem para a pele, vai na minha que é verdade.
A lista chama: 20 maneiras que os funcionários são motivados pelo trabalho.
Ter a chance de gerar impacto (“é importante sentir que sou parte de algo maior”)
Aprender algo novo e me manter curioso todo dia (“eu quero sempre aprender as próximas novidades, aprenderia de graça”)
Trabalhar com pessoas que eu admiro em uma cultura ótima
Me divertir
Ter flexibilidade (e poder equilibrar com a vida doméstica)
Compartilhar conhecimento com outros times e ajudar os colegas
Sentir que estou progredindo.
Um ótimo ambiente de trabalho
Leiturinhas
Para assistir: Fiquei feliz em saber que a segunda temporada de uma série que eu adoro e que trata da relação com o trabalho (de uma maneira bem distópica) vai ter segunda temporada. Se não assistiu corre e assiste Severance, na AppleTV
Ser chefe ou ter tempo livre? Olha a quiet ambition cada vez menos discreta. Pesquisa da plataforma Visier aponta que só 4% dos empregados sonham virar CEO. Em vez de orientar suas vidas em torno de suas carreiras, os funcionários querem sair às 17h e desligar da rotina corporativa. “Eles veem o trabalho que seus chefes estão fazendo e percebem que não querem seu papel ou responsabilidades. Mas o que significa esta mudança de prioridades para os empregadores? Existe realmente uma falta de ambição e isso ameaçará a escala corporativa?”
A vida depois do burnout: Tá muito legal a entrevista da Tábata Amaral para a Tati Bernardi, no programa Desculpe Alguma Coisa. Mas na parte que nos toca neste espaço aqui, ela conta que teve um burnout no começo do ano e como mudou totalmente o estilo de vida a partir daí, e na visão dela sobre as políticas públicas que deixariam todo mundo mais saudável. Começou a correr, aprender sobre alimentação.. tá que nem a gente, querendo ficar felicíssima e saudável no trabalho. Recomendo ouvir tudo mas, se não der tempo, ouve só esse pedacinho.
Desengajados: Uma pesquisa da consultoria Mckinsey revelou que mais da metade dos funcionários que eles entrevistaram estão insatisfeitos com o trabalho. Eles criaram até um quiz para você compartilhar com a sua equipe, o que eu sugiro que você só faça se pretender atacar o problema de alguma maneira depois. A pesquisa deles também mostra que, embora os melhores funcionários se saiam melhor em trabalho remoto, um modelo híbrido pode ser a melhor maneira de maximizar o benefício da flexibilidade para mais gente.
Fica bem e nos vemos em 15 dias!
Beijos,
Ligia
Se você gostou desta newsletter, considere assiná-la gratuitamente ou apoiá-la financeiramente, ou simplesmente divulgar entre seus conhecidos. Para assinar, clique no botão abaixo:
Crédito: Agradecimentos ao Tércio Silveira, da Forno a Letra, pela revisão.
Sobre a autora
Sou jornalista há 20 anos, com MBA em Finanças e especializada em inovação digital, políticas públicas e temas sociais. Longas passagens pelo G1, Valor Econômico e BBC News Brasil, onde fui editora por 5 anos. Ouvir e histórias que merecem ser contadas é a minha paixão. Você pode conhecer um pouco do meu trabalho clicando aqui